Para um primeiro post neste blog, fui aconselhada a apresentar-me e a escrever sobre o filme da minha vida. Cheguei, então, à conclusão que os filmes da minha vida são muitos.
Aos 4 anos, era Mary Poppins. Ainda hoje, sei que vou gostar de alguém que entende o que quero dizer quando falo que posso tirar até um abajour de dentro da minha bolsa. Um pouco mais velha, A Fantástica Fábrica de Chocolates tomou o lugar. É um filme que ensina que boas são crianças que não são mimadas, gulosas, competitivas, sabe-tudo, mas as modestas, como o Charlie, como eu, que não chamavam atenção pela beleza, pelos dotes, pelos brinquedos caros. Aos 11, Agora e Sempre e O Clube da Babás me faziam desejar amizades cheias de cumplicidade e que durassem para sempre.
Entre os 15 e 17, Dez coisas que eu odeio em você era o filme da minha vida. Assistido incontáveis vezes, amar esse filme não tinha tanto a ver com o Heath Ledger cantando "Can't take my eyes of off you", ou com o beijão do final, nem com a trilha sonora bonitinha de Letters to Cleo, mais do que tudo isso, tinha a ver com o fato de que é muito mais fácil ser Bianca do que ser a Kat, e eu definitivamente nunca tive os predicados para ser uma Bianca. Peixe Grande e Em Busca da Terra do Nunca foram os filmes da minha vida no início dos meus 20 anos, época da faculdade, trazendo nostalgia e esperança de que tudo pode ser mais fácil quando a gente acredita na imaginação. Esses dois filmes tem um lugar especial no meu coração e me ajudaram a justificar para mim mesma meu otimismo sem tamanho.
E agora, aos 25 anos e vivendo um momento angustiante e maravilhoso ao mesmo tempo (as melhores coisas da vida são ambivalentes mesmo), o filme que melhor retrata meu deslocamento, indignação e que demonstra que toda a minha formação moral, acadêmica, social serviram para eu aprender a pensar por mim e não ficar acomodada no conforto das dez vezes sem juros, é Na Natureza Selvagem.
Ouvi uma pessoa dizendo que tinha assistido a esse filme e achado bom, mas que não tinha mudado a vida dela. O que pensei foi: "Mas quem disse que ele foi feito para mudar a sua vida?". Filmes não são feitos para mudar os outros. Se eu não me identifico, vou achar uma idiotisse um cara que tinha tudo (ou nada), se desfazer disso e ir procurar aquilo que lhe desse liberdade impossível de encontrar até então. Ele não queria ficar sozinho, não achava os relacionamentos inúteis, mas achava que era preciso redescobrir um relacionamento com a natureza e fugir do vazio que sentia no relacionamento com os homens.
Se eu não me sinto oprimida pela vida, se eu não percebo a opressão social que as pessoas próximas de mim sofrem, se eu estou bem fazendo o papel que me foi incumbido, Na Natureza Selvagem é um filme sobre um garoto mimado que não sabia valorizar família, dinheiro, posição, posses. Agora, se eu tenho a capacidade de olhar para o lado e perceber que existe muita coisa errada e que a sociedade humana vai acabar através da bárbarie, já que aparentemente o outro e natureza estão aqui para nos servir, e se for preciso eu passo por cima disso tudo, vou perceber que Na Natureza Selvagem faz com que a gente se questione até que ponto está sendo só mais um, sem tentar fazer nada para reverter o processo do mal-estar que toma a nossa civilização, emprestando aí palavras do homem da minha vida, Sr. Freud.
E com isso acredito que, além de te ter falado sobre o(s) filme(s) da minha vida, acredito também ter me apresentado e dado uma idéia sobre quem sou eu nesse mundo maluco. Se não, concluo dizendo que sou alguém que, de certa forma, também busca um encontro com a natureza selvagem, à sua própria maneira.
PS: Eu não poderia deixar de falar sobre a trilha sonora, toda composta pelo Eddie Vedder, para o filme, deixando as cenas mais intensas e emocionantes se é que isso é possível.
ficha técnicaAos 4 anos, era Mary Poppins. Ainda hoje, sei que vou gostar de alguém que entende o que quero dizer quando falo que posso tirar até um abajour de dentro da minha bolsa. Um pouco mais velha, A Fantástica Fábrica de Chocolates tomou o lugar. É um filme que ensina que boas são crianças que não são mimadas, gulosas, competitivas, sabe-tudo, mas as modestas, como o Charlie, como eu, que não chamavam atenção pela beleza, pelos dotes, pelos brinquedos caros. Aos 11, Agora e Sempre e O Clube da Babás me faziam desejar amizades cheias de cumplicidade e que durassem para sempre.
Entre os 15 e 17, Dez coisas que eu odeio em você era o filme da minha vida. Assistido incontáveis vezes, amar esse filme não tinha tanto a ver com o Heath Ledger cantando "Can't take my eyes of off you", ou com o beijão do final, nem com a trilha sonora bonitinha de Letters to Cleo, mais do que tudo isso, tinha a ver com o fato de que é muito mais fácil ser Bianca do que ser a Kat, e eu definitivamente nunca tive os predicados para ser uma Bianca. Peixe Grande e Em Busca da Terra do Nunca foram os filmes da minha vida no início dos meus 20 anos, época da faculdade, trazendo nostalgia e esperança de que tudo pode ser mais fácil quando a gente acredita na imaginação. Esses dois filmes tem um lugar especial no meu coração e me ajudaram a justificar para mim mesma meu otimismo sem tamanho.
E agora, aos 25 anos e vivendo um momento angustiante e maravilhoso ao mesmo tempo (as melhores coisas da vida são ambivalentes mesmo), o filme que melhor retrata meu deslocamento, indignação e que demonstra que toda a minha formação moral, acadêmica, social serviram para eu aprender a pensar por mim e não ficar acomodada no conforto das dez vezes sem juros, é Na Natureza Selvagem.
Ouvi uma pessoa dizendo que tinha assistido a esse filme e achado bom, mas que não tinha mudado a vida dela. O que pensei foi: "Mas quem disse que ele foi feito para mudar a sua vida?". Filmes não são feitos para mudar os outros. Se eu não me identifico, vou achar uma idiotisse um cara que tinha tudo (ou nada), se desfazer disso e ir procurar aquilo que lhe desse liberdade impossível de encontrar até então. Ele não queria ficar sozinho, não achava os relacionamentos inúteis, mas achava que era preciso redescobrir um relacionamento com a natureza e fugir do vazio que sentia no relacionamento com os homens.
Se eu não me sinto oprimida pela vida, se eu não percebo a opressão social que as pessoas próximas de mim sofrem, se eu estou bem fazendo o papel que me foi incumbido, Na Natureza Selvagem é um filme sobre um garoto mimado que não sabia valorizar família, dinheiro, posição, posses. Agora, se eu tenho a capacidade de olhar para o lado e perceber que existe muita coisa errada e que a sociedade humana vai acabar através da bárbarie, já que aparentemente o outro e natureza estão aqui para nos servir, e se for preciso eu passo por cima disso tudo, vou perceber que Na Natureza Selvagem faz com que a gente se questione até que ponto está sendo só mais um, sem tentar fazer nada para reverter o processo do mal-estar que toma a nossa civilização, emprestando aí palavras do homem da minha vida, Sr. Freud.
E com isso acredito que, além de te ter falado sobre o(s) filme(s) da minha vida, acredito também ter me apresentado e dado uma idéia sobre quem sou eu nesse mundo maluco. Se não, concluo dizendo que sou alguém que, de certa forma, também busca um encontro com a natureza selvagem, à sua própria maneira.
PS: Eu não poderia deixar de falar sobre a trilha sonora, toda composta pelo Eddie Vedder, para o filme, deixando as cenas mais intensas e emocionantes se é que isso é possível.
título: Na Natureza Selvagem (Into the Wild).
duração: 148 minutos.
direção: Sean Penn.
roteiro: Sean Penn, baseado em livro de Jon Krakauer.
avaliação:
