RSS
críticas de filmes por pessoas que simplesmente gostam de filmes, oras!

Persona




Esse vai ser um relato rápido, de um filme cult, o primeiro Bergman da minha vida. Calma, calma. Nada de histeria estudantes de cinema. Foi mesmo o meu primeiro Bergman e nem doeu. Achei que tinha que ser uma pessoa muito profunda para esse tipo de filme. Pensei errado. Pensei de uma forma boba. Pensei. Hey, eu penso! Posso ver Bergman.

O filme se chama Persona, é de 1966 e é preto e branco.

Uma atriz no palco perde a fala por dez segundos numa cena tensa, vai pra casa e amanhece completamente muda e apática. A atriz é bela, casada e com um filho pequeno, mas esses não passam de coadjuvantes figurativos. Uma enfermeira é designada para seus cuidados. Uma enfermeira jovem, talvez um tanto inexperiente, talvez um tanto ingênua.

Mesmo sem a fala a atriz cria um certo laço afetivo com a moça insegura e elas se tornam amigas. Talvez até mais do que isso na cabeça da jovem enfermeira. Fica meio incerto se a atriz está sendo dissimulada ou sincera. Mas a amizade segue, com direito a alta do hospital e dias de bebedeira e revelações num local afastado do mundo onde a enfermeira narra a história de sua vida e a atriz apenas escuta. Silenciosamente.

A vulnerabilidade é algo fatal nos relacionamentos. Ninguém gosta de se sentir vulnerável ao outro. Eis então que surgem os problemas do paraíso. Possivelmente deslumbrada, a enfermeira começa a assumir a personalidade da atriz e a atriz deixa a fantasia ganhar proporção talvez por ser dissimulada e má, talvez por não enxergar maldade. Sabe-se lá Deus. As crises aumentam. As brigas. Tomadas longas. A cena do caco de vidro. E segue.

O fato mais interessante para mim no filme é como nós não estamos preparados para ouvir pequenas verdades a respeito de nós mesmos. Coisas absolutamente verdadeiras e concretas, ditas (no caso do filme escritas) sem maquiagem, machucam tanto que a gente mal sabe o que nos atingiu. E tudo como a gente conhece desmorona. E por causa de uma verdade. Apenas uma verdade.

O filme é bonito e artístico, menos do que eu achava, na medida certa para o meu gosto. Diálogos enormes, cenas lentas, coisas desconexas, final bastante enigmático. Aliás o filme inteiro é um dos mais enigmáticos e lentos e climáticos. Muito bonito.

Não doeu e foi bom.
Recomendado.

 
Copyright 2009 Pipoca com cerveja. All rights reserved.
Free WordPress Themes Presented by EZwpthemes.
Bloggerized by Miss Dothy